sábado, 23 de maio de 2015

Para você que está em dúvida: Minha experiência com a creche


O Ben aprontando na creche :)
Eu me lembro que a decisão de colocar o Benjamin na creche foi muito difícil. Ora eu me culpava muito por deixá-lo lá, ora eu me culpava por deixá-lo somente comigo em casa e privá-lo de outros tipos de interações. Existe como saber qual escolha foi a certa? Colocá-lo ou não na creche? Provavelmente nunca saberei.
A questão é: como eu fiz para sentir que minha escolha foi no mínimo adequada? Não fiz muitas coisas não. Foi a montanha que veio a Maomé na verdade.
Primeiro, acho que cada um tem que observar bem o seu filho (a) e principalmente a si.
O Benjamin é um bebê muito sociável. Igual disse uma amiga da minha mãe “que safadinho, ele vai com todo mundo”. É isso mesmo. No Brasil, principalmente, ele passou de colo em colo, minhas amigas e familiares deram comida para ele, deram banho nele, sumiam com ele e ele não se reclamava. Claro, se bater sono e fome, aí o Benjamin mostra suas garrinhas. Mas eu e o Dani sempre tivemos a impressão de que ele gosta de conhecer pessoas novas e examinar seus dentes. Se eu acreditasse que isso tem alguma correlação com o futuro, eu diria que ele seria dentista. Mas para mim, parece só que dentes são seus brinquedos favoritos.

Ben com 5 meses examinando a boca de sua educadora preferida, a Silvia, paixão secreta do Ben :)
Eu lembro a primeira vez que quis sair do ninho, o Ben tinha uns 4 meses e eu quis fazer uma matéria na Universidade, pois em um mês eu iria trabalhar lá e depois de 4 meses pensando só em amamentação, nas minhas noites mal dormidas, nas bochechinhas do Ben, eu comecei a estudar.
Foi muito difícil ficar essas duas horas longe do Ben. Eu saia muito com ele, eu sempre ia para rua ou encontrar minhas amigas para o Ben ficar mais contente. O Ben não é definitivamente um bebê que gosta de ficar em casa o dia inteiro. Ele precisa de ACTION! Como diz o Dani. Mas era a primeira vez que eu saia de casa sem ele. Claro, sem contar às vezes que eu estava no meu limite e entregava ele para o Dani e saia correndo de casa dar uma volta de bicicleta.

Quando eu estava na sala de aula, minha amiga Maria cuidava do Benjamin. E eu ficava pensando, coitada da Maria, vou chegar lá o Ben vai estar chorando, sofrendo com saudades da mamãe. E assim que eu chegava em casa, estavam lá os dois brincando ou ele dormindo no colo da Maria.

O Ben quando tinha 4 meses e a Maria, quando tinha 23 :P

Eu deveria nesse momento sofrer? Meu Deus, pera ai, ele não sente minha falta? Ou deveria ficar feliz? Que bom! O Ben gosta de mais pessoas, que não só mamãe e papai. E foi assim que eu descobri que o coração do Ben é muito grande.
Depois o Ben começou a ir na creche Les P'tites Fripouilles. Esse foi um golpe duro para mim, que estava grudada o dia inteiro com ele, e de repente eu passei a ficar horas do dia sem ele. As primeiras semanas foram muito cruéis. Então eu ia correndo na creche pegá-lo. Já vinha com aquela cara de “tenham pena de mim”, achando que elas me contariam que ele chorou o dia inteiro. E elas “não, ele não chora muito não, só quando quer dormir ou está com fome”. E eu:

Oh really?
Mas eu me lembro dos choramingos inconsoláveis.... Será que as educadoras estão querendo me deixar menos preocupada? Hoje acredito que não. Porque quando o deixo na creche, ele começa a rir e ele vai muito feliz para o colo delas e dele. Tem um educador lá que o Ben adora! E eu vejo o quanto elas gostam do Ben, porque às vezes chego antes do horário e fico expiando eles pela janelinha e o Ben ganha muitos beijinhos e abraços.


O Ben jogando seu charme para a Stéphanie
Hoje quando vou buscar o Ben, está escrito no caderninho dele que ele sorri muito e é muito divertido. Isso me deixa tão aliviada e feliz. Meu Benzico gostou da minha escolha.
No fundo, acredito que a escolha da creche ou de não ir para a creche, não é somente pelo bem do bebê. Muitas mães escolhem não colocar o filho na creche, porque querem ficar com eles em casa. E que bom, que gostoso. Mas não é realmente porque todos os filhos só precisam das mães e dos pais. Como todos, cada bebê é de um jeito e você precisa estar muito atenta ao jeitinho do seu filho (a). O meu Benjamin precisa obviamente interagir com muitas pessoas para ser feliz e talvez só mamãe o dia inteiro seria entediante para ele.
A escolha de colocá-lo na creche também não foi somente para ele ter mais interações, foi para o meu bem. Eu queria trabalhar, eu acho importante além de ser mãe, ser profissional, mulher e amiga. Eu gosto muito do que faço, e sentia muito falta. Eu consigo ser uma mulher que trabalha, que ama seu parceiro, que amamentou seu filho por 10 meses, que sai com os amigos e passa um tempo cheio de alegria e brincadeiras com seu pequeno.

Eu sei também que ele é a pessoa mais importante da minha vida. Mas eu nem sempre serei para ele a pessoa mais importante. Por isso, eu tenho que aproveitá-lo o máximo possível, sem deixar de ser a Cintia. Alias, é muito estranho pensar, como mãe, que o Ben "não me pertence", ele é um serzinho diferente de mim, com suas vontades e sua independência (ainda que pequena).
Não há uma escolha fundamentalmente altruísta. Nós sempre pensamos em nós mesmos, no que eu quero para minha vida, no que, onde e como vou me sentir melhor. O problema é você fazer uma escolha pessoal como essa – colocar o seu filho na creche ou não – e dizer que a outra escolha, a que você não tomou, é a errada. Não há receitas. Há experiências, cultura influenciando, desejos e jeitinho de bebês e suas famílias.
Se você é uma boa observadora do seu bebê não há escolha errada enquanto ele estiver dando sorrisos e sendo serelepe.
Enquanto isso, eu levo o Ben na creche e ele se estica no meu colo tentando alcançar a porta da creche, eu o coloco no colo do educador, ele balança as perninhas euforicamente, já lascando sorrisos e examinando a boca do Monsieur, nem olha para trás. Depois começa a olhar para baixo, aquele bando de crianças brincando, correndo e descobrindo o mundo e ele começa a se esticar tentando alcançar seus coleguinhas. O educador olha para mim e diz: “Tchau mamãe, tenha um bom dia, porque o pequeno aqui já começou o seu”.
No fim do dia, quando eu chego na creche, ele faz o mesmo para mim. Eu o pego no colo e ele começa a examinar minha boca e soltar gritinhos contentes... E nós vamos para casa brincar, porque agora é a hora sagrada do Benjamin.

Cíntia