sábado, 31 de janeiro de 2015

Está a fim de ler um bom livro atual brasileiro? Leia Tabua!




O que eu não imaginava que encontraria pelas bandas do Grão-Ducado era um escritor brasileiro. Muito menos que ganharia das mãos dele e de sua mulher seu livro. 
 
Eu até achei que a profissão escritor tinha entrado em extinção no Brasil. Que literatura boa, curiosa e interessante, eu tinha lido na escola e era basicamente isso. Pode ser também que fiquei perdida no tempo e desatualizada da literatura atual brasileira.

Mas o Brasil ainda guarda muitas surpresas. Uma delas é o livro Tabua, de Carlos Tourinho de Abreu.


Já nas primeiras páginas senti que teria que ler até o final do livro para saciar minha curiosidade do que se passaria com o personagem principal da história. 
O livro começa no sertão nordestino, Bahia. Nossa querida Bahia, que muito já proporcionou ao Brasil. Uma história particular, mas comum. Menino pobre, que sofre da fome, da violência e da dúvida de qual futuro terá. 

Desde o inicio, como leitora, eu me apeguei a esse menino, torcia por ele e queria muito, mas muito, saber quem ele encontraria em sua vida, como as pessoas lidariam com ele, que ensinamentos lhe passariam. Do sertão da Bahia, Guina passa por Serra Pelada, São Paulo, litoral baiano e chega até aos Estados Unidos. Conhece pessoas e entidades que nunca imaginei que poderiam ser ou existir. Apaixona-se e deixa o leitor esperançoso desse amor. Procura o tão desejado ouro, e a tão essencial saciedade.




O que gosto também do livro é que as descrições de cenas e personagens são na dose certa. Deixa o leitor imaginar um pouco, inventar um rosto, um ambiente para as cenas. A possibilidade de poder imaginar na leitura, talvez seja um dos requisitos para um livro ser considerado bom.

No meu caso, uma dose de suspense também é muito importante. E Tabua tem isso de “vou ler só mais uma página para ver o que acontece”. E lá se vão algumas páginas! Da mesma forma, o fato de Guina passar por muitos lugares do Brasil dá um sentimento de qualquer brasileiro se sentir pertencente e contemplado na história.

Não quero contar detalhes da história, porque vocês mesmos leitores tem que querer redescobrir esse mundo da literatura brasileira. Gostaria muito de poder incentivar a leitura de uma maneira mais eficaz, mas a única que conheço é por indicação. Então aí vai: eu indico o livro Tabua, do escritor baiano-brasileiro-luxemburguês, Carlos Tourinho de Abreu.

Como o autor está bem pertinho de mim, eu resolvi fazer uma entrevista com ele, que digamos assim, me surpreendeu novamente. Dei uma de jornalista e funcionou! 

Olhem aí a entrevista com o autor:





1 – Carlos, você poderia me contar de onde “tirou” sua inspiração para contar essa história que atravessa o Brasil inteiro?

Tanto Tabua quanto Ventos para Areia Branca, meu novo livro, são livros que os personagens principais viajam pelo Brasil inteiro, e até por outros países do mundo. A minha ideia foi dar ritmo à trama e, além disso, cada lugar tem uma importância especial para a que o desfecho dos livros façam sentido. No entanto, o foco de ambos os livros é no Nordeste brasileiro, mais especificamente no interior da Bahia, Estado onde nasci. Muitas das locações dos livros existem, e apesar de ambas as histórias serem ficção, me inspirei em traços culturais e pessoas reais. Criar personagens é como um quebra cabeça, no qual algumas peças são características de pessoas que algum dia conheci.

2 – Quando você sentiu pela primeira vez na sua vida que queria ser escritor?
Desde pequeno escrevia poesia, apesar de achar que elas não sejam nada demais. Interessei-me em escrever ficção, pois queria muito escrever uma saga medieval, pois me interessava e ainda muito me interesso pelo assunto. Por sinal, este foi o primeiro livro que escrevi, e chama-se Horizontes Medievais – ainda não publicado. Comecei a escrevê-lo em 2003, parei alguns anos e retomei em 2007. O livro é muito bom, grande, por isso acho que pode ser dividido em três volumes, e devo revisitá-lo para alguns ajustes. Sabe como é, acho que adquiri alguma experiência com os dois livros que publiquei e sem dúvida posso melhorar um pouco Horizontes Medievais. Entretanto, falta-me tempo para me dedicar a este projeto.

 3 – Como é ser um escritor brasileiro no início desse século XXI?
 Difícil, pois há pouco apoio tanto das entidades governamentais quanto do mercado editorial - que vive uma época de incerteza em relação aos rumos que a comercialização de livros vai tomar. A Amazon é um ótimo exemplo que quebra de paradigmas no que se refere à comercialização de livros no século XXI. A primeira edição de Tabua foi publicada em uma editora convencional. Apesar de no início ter vendido bem, EU e somente EU fui o responsável por promover o meu livro – através de redes sociais e blog. Apesar do esforço colossal da minha parte, tive quase nenhum retorno financeiro - o direito autoral é ridículo -, e posso dizer que lidei com muitos entraves de logísticas, pois apesar de muitas promessas por parte da editora, os leitores não encontravam Tabua nas prateleiras das livrarias da maior parte do Brasil. Resolvi então publicar Ventos para Areia Branca pela Amazon e Clube de Autores (um site de auto publicação brasileiro). Sucesso total! Disponível online para todo o Brasil e diversos países do mundo. Sucesso de vendas! Recebo direitos autorais sem intermediários e todos os meses. Chequei até a ser o campeão de um prêmio literário com Ventos para Areia Branca. A experiência foi tão boa que decidi rescindir antecipadamente o contrato de Tabua com a editora convencional e no fim de 2014 publiquei a sua segunda edição pela Amazon e Clube de Autores.


4 – É possível viver só da profissão escritor?
 Acho difícil. A não ser os puxas-saco do governo, que vivem miseravelmente de editais, acho muito complicado se tornar um fenômeno de vendas como Paulo Coelho, por exemplo. No Brasil ainda há aquela ideia idiota de que se o livro vende bem, não tem qualidade literária. Visão muito diferente de mercados evoluídos como o americano e o europeu.

5 – Você o faria se fosse possível?
 Faria! Amo escrever e acho que através da escrita posso fazer alguma diferença. Hoje não tenho tanto tempo para escrever, pois a vida corrida da minha profissão – a que ganho o pão de cada dia :) - não me deixa ter a paz de espirito para me dedicar a novos projetos literários. E olhe que tenho muitos em mente!

6 – Você acha que o brasileiro lê bastante? Caso não, por que acha que não?
 Lê muito pouco, comparado a mercados literários mais maduros. Posso dar um exemplo prático. Meus livros vendem a mesma quantidade em média nos Estados Unidos e no Brasil. Aí você me pergunta: quem compra seus livros nos Estados Unidos, se ele é escrito em português? Eu respondo: provavelmente brasileiros vivendo nos Estados Unidos, e que incorporaram o hábito da leitura do país que migraram. É impressionante o dinamismo do mercado literário americano. Os números são incomparáveis com o Brasil. Acho que o povo brasileiro lê pouco, e muito desse fenômeno é explicado pela péssima educação que é destinada aos jovens brasileiros. Muitos dos nossos potenciais leitores são diagnosticados frequentemente como analfabetos funcionais. Uma pena!

7 – Houve uma época que existiam muitos escritores brasileiros, fim do século XIX, até meados do século XX. O que você acha que tinha de especial nessa época que as pessoas se sentiam inspiradas a escrever?
Vamos focar no século XX, pois está mais perto de nós. Não precisa ir longe, meus dois conterrâneos, Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro. Sucesso nacional e internacional. Lidos em diversas línguas. Formadores de opinião e participantes ativos da mídia da sua época. Se há público, investimento na imagem do autor, reconhecimento, remuneração do seu trabalho, sem dúvida há inspiração para escrever grandes obras como Mar Morto e O Sorriso do Lagarto.

8 – O que mudou?
Acho que o foco da mídia é muito importante neste contexto. Hoje a concorrência é imensa por um lugar aos holofotes. Para as grandes redes de TV e rádio, vale mais falar de funk, Valesca Popozuda, Arrocha, e etc. Por que? Porque atinge uma massa pouco erudita, que mesmo extremamente endividada, hoje em dia tem certo poder aquisitivo. No passado não tinha. Daí havia mais espaço para escritores, bons músicos, como os da Bossa Nova, que vendiam para um público mais culto. As editoras e gravadoras investiam pesado nos seus artistas, de modo que havia retorno. Infelizmente, os grandes nomes da literatura brasileira estão morrendo, e não há sequer um nome da nova geração que podemos chamar de ídolos, nos moldes dos escritores da velha guarda.

9 – Você acha que o uso constante de redes sociais diminuiu o tempo que as pessoas passam em leituras? O que mais você acha que contribuiu para as pessoas estarem lendo menos?
As redes sociais são grandes parceiras para autores “ilustres desconhecidos” como eu. Sem elas eu não teria nenhum canal para divulgar meu trabalho. Não acho que elas sejam as vilãs no quesito “falta de leitura”. O mundo de hoje é muito dinâmico e corrido. Muitas pessoas já me relataram que depois de um dia de trabalho exaustivo, querem chegar em casa e assistir algo idiota na TV. Algo que não tenha que pensar muito. Além disso, há concorrentes fortes, como: youtube, netflix, videogame, etc e etc. No entanto, ainda acho que uma boa leitura nos leva a caminhos que nenhum outro meio pode nos levar. Nossa imaginação cria um mundo ideal e nada ainda pode substituir esta sensação. 

10 – Por último, o que você acha que deve ser feito para as pessoas lerem mais? Principalmente, mais literatura brasileira.
Primeiro, uma revolução radical no sistema educacional brasileiro. Precisamos reagir a uma realidade onde o bom ensino agoniza. Investimentos consistentes e eficientes são fundamentais. Pessoas educadas são estimuladas a ler. E melhor, tomam gosto pela leitura e passam o hábito para as gerações seguintes. Segundo, o livro tem que ser mais barato no Brasil. Mais isto é muito relacionado aos poucos ganhos de escala do mercado editorial brasileiro. Se tivermos mais leitores, o custo do livro cairá proporcionalmente. Com essas duas medidas, acho que já haveria um bom estímulo para o fomento da literatura nacional, que hoje fica nos fundos das prateleiras das livrarias, atrás das traduções estrangeiras. Um mero reflexo de um modelo de negócio próspero que vem de fora. Os mercados americano e europeu funcionam. Era impressionante quando pegava o metrô na Inglaterra – na época em que lá vivi – e observava a enorme quantidade de pessoas com os rostos grudados em livros – tanto impressos, quanto ebooks. Ficaria imensamente feliz se chegasse a ver isso algum dia acontecer no Brasil.

Para saber onde encontrar os meus livros, clique aqui:
Leia os primeiros capítulos de Tabua e Ventos para Areia Branca, aqui:
Mais informações sobre o autor:


ps: Agora eu entendi bem o que essa capa representa :)

Desejo uma boa leitura para vocês! Assim como foi para mim.
Cíntia


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Cortar o cabelo ou não?



Nos tempos de guerra entre os que iam votar em Aécio e os que iam votar na Dilma, os bons e os maus (os maus e os bons, vai saber), os estúpidos e os inteligentes... Bem, pelo menos era isso que parecia nas redes sociais... Eu estava lutando contra o show de horror que era lavar o cabelo... Sim, algo irrelevante, comparado ao futuro do Brasil. Caía tanto, mais tanto cabelo que parecia que eu estava usando cabelo para lavar o corpo e não água. Parece exagero? Se eu saía do banho e mostrava a quantidade de cabelo para o Dani e o Ben eles ficavam assim:







E daí eu entendi porque muitas mães cortam o cabelo curto depois que nascem os filhos. Antes eu achava que era algo para demonstrar “uma nova etapa de vida” ou que “mãe combina mais com cabelo curto”, coisas tolas desse tipo.



Mas foi aí que a questão “cortar cabelo curto”, o que aparentemente é uma coisa simples de fazer e até fútil de se pensar, me encucou.



A dúvida de cortar o cabelo ou não, é uma dúvida que atinge a sensualidade da mulher. Claro, não todas. Conheço muitas mulheres bem resolvidas com sua sensualidade e aparência. Mas nem todas são, e por isso associam muitos “apetrechos” (como por exemplo, cabelos longos e lisos) a sua sensualidade, e ficar sem tais apetrechos pode causar dor de cabeça em muitas mulheres.



Então fiquei me perguntando quais “apetrechos” são importantes no Brasil que não são aqui na Europa? Como a Europa é muito grande, e Luxemburgo muito internacional, vou ficar com a velha Alemanha. Mais especificamente, as mulheres alemãs que eu conheço. Então de precisão científica, esse post tem muito pouco.



Primeiro pensei que a probabilidade aqui de alguém pegar no meu pé porque eu não faço as unhas ou não escondo minhas espinhas é principalmente latina. Conversas sobre produtos a se usar no cabelo, raramente tive em outra língua que não o português. E é por isso mesmo que quando vou ao cabeleireiro não sei as palavras corretas para hidratação, cauterização capilar etc. Não que isso seja irrelevante, meu cabelo pós-parto até precisa de algum tipo de ajuda.







Observando discretamente minhas amigas alemãs e latinas, vejo que existem diferenças entre o que é considerado bonito nas duas culturas. Não conheço uma alemã, por exemplo, que considere seios pequenos um problema. Depilação estilo bigodinho de Hitler? Mal imaginam elas que Hitler foi preferência nacional. Mas nem precisam, porque o estilo de depilação agora está mais ou menos assim:



Nunca botei essa questões de "preferências" numa roda de conversa entre alemães. Provavelmente eu só receberia isso como resposta:







Dentre as alemãs também há muito menos problemas com cabelos curtos. Muitas têm e não parece que foi um dilema cortar as madeixas.



Um fenômeno interessante é que muitas alemãs (de qualquer idade, inclusive acima de 70 anos) gostam de fazer madeixas em cores pink ou roxo. Gostaria de entender porque especificamente essas cores. Ninguém sabe me explicar. No Brasil, a preferência ainda é pelas “luzes”, o loiro.



Algo que eu achava que era fenômeno mundial  - não existem mulheres de cabelos brancos – não é. Na Alemanha é possível ver mulheres com cabelos brancos. No Brasil também, mas é mais raro. A mulher que assume seu cabelo branco pode ser muitas vezes considerada relaxada. Aliás, o envelhecimento da mulher é um fenômeno estranho em muitos países. Chegamos ao ponto de termos capas de revistas em que consta “Aos 37 anos, Liv Tyler, não é mais a mesma”. Sim, a biologia explica. O envelhecimento da mulher é um fato incomum, e totalmente fora de moda. 




A quantidade de cirurgiões plásticos é um dado interessante para se avaliar a importância da beleza e dos cuidados em que as mulheres tomam com seus corpos. De acordo com o ISAPS International Survey on Aesthetic/Cosmetic, os EUA e o Brasil são os países que mais tem cirurgiões plásticos (por habitantes) do mundo e mais realizam procedimentos cirúrgicos desse tipo. O Brasil ganha em lipoaspirações, e em segundo lugar colocação de silicones e nos EUA é o contrário. Os dados da pesquisa estão nesse link







Não sei dizer ao certo porque no Brasil é muito importante estar de acordo com os padrões de beleza estabelecidos pelas revistas, ainda mais pelas revistas americanas. Também não tenho nenhuma opinião formada sobre o assunto. Muito menos alguma certeza. Simplesmente as diferenças culturais em relação à beleza me deixam curiosa.



Como psicóloga, o que acho complicado é que algumas mulheres olham constantemente para seus defeitos físicos. Em terapia a questão “aparência física” como um problema é muito mais feminina, que masculina (claro, na minha experiência). Muitas mulheres estavam sempre atentas ao arrepiado de seu cabelo, a lasquinha de sua unha, a barriguinha saliente que aparece na blusa justa que colocou... Muitas delas acabavam perdendo tempo precioso para se preocupar com sua aparência física. 



É a mulher que se cobra muito? É uma disputa? É pressão social? De quem? Muitos europeus acham a beleza brasileira especial e única, justamente por causa da mistura de tantos povos. Por que algumas brasileiras não conseguem se ver dessa forma e acabam pagando caro, financeiramente e pessoalmente para correr atrás de um padrão americano de beleza?



Talvez uma abordagem saudável em relação a beleza não é nem fingir que é desnecessária ou sem importância, mas também, não tornar o centro da vida de alguém ou de uma família.  Sendo honestas sobre o assunto, podemos talvez ajudar umas as outras a tomar decisões mais informadas sobre o assunto ou aceitar algum ”desajeitamento”. 


Cíntia