quarta-feira, 19 de março de 2014

Consulado Brasileiro da Paciência em Luxemburgo


É muito bom saber que eu posso contar com meu consulado no país em que estou habitando. Infelizmente aqui em Luxemburgo não é o caso. Para os brasileiros residentes no Grão-Ducado se beneficiarem dos benefícios do Consulado devemos nos deslocar para Bruxelas, na Bélgica.



Mas de vez em quando temos a boa notícia de que o consulado vem para cá nos ajudar. O tal “Consulado Itinerante”.





Eu não tinha nada de concreto para fazer lá, mas tinha algumas dúvidas que mandei por email, como sugerido no telefonema que fiz para o Consulado em Bruxelas e estou aguardando há 2 meses a resposta. Então achei que indo ao Consulado Itinerante, talvez ao vivo, eles não me esqueceriam.



Peguei minha lista de dúvidas e parti para o local. Cheguei às 9h no Consulado.



Dava para ouvir de longe que eu estava chegando um pouquinho perto do Brasil. Pessoas rindo, conversando, crianças brincando e aquele clima de “me sinto em casa”.




Quanto entrei na sala vi 4 mesas com 4 pessoas, uma em cada mesa, que eu presumi que eram os funcionários. De frente para as mesas havia várias cadeiras para nós, brasileiros perdidos no Grão-Ducado, se sentar e esperar o atendimento.



Em volta das mesas dos funcionários havia várias pessoas em pé, algumas rindo, outras irritadas e as cadeiras de frente as mesas, estavam lotadas e várias pessoas estavam em pé, penduradas ou debruçadas por aí.



Muitas mães com bebês de colo e duas grávidas. 

Também tinha uma mesa com umas bebidas... Logo pensei "Humm será que tem quitutes também?". Bolei já uma estratégia, de como faria para pegar as delícias...


Mas não, era só água mesmo... 



Primeira coisa que pensei: “Como funciona?”... Procurei por “senha” que é o mais óbvio. Não achei. Então parti para a segunda opção. Cutuquei um jovem na minha frente e perguntei “Como funciona isso aqui?”. Ele riu e disse: “ – Não sei se funciona. Mas a senha você deve pegar com essa moça”. Ele apontou a primeira moça, funcionária do Consulado, que estava atendendo os brasileiros, mas era a mais perto da porta de entrada. 




Parei do lado dela e tentei esperar uma brecha para pedir a senha, já que ela estava atendendo outra pessoa. Fiz alguns sorrisinhos de sem graça, do tipo “desculpe interromper”, mesmo que não há motivos para se desculpar, a senha estava com ela e não havia outra maneira de pegar.  Depois de uns 10 minutos, consegui uma brecha “senha para preferenciais por favor”. E ganhei uma senha, a 618. 


Daí pensei, “e agora, qual número está? Bom, vou esperar até alguém gritar o próximo número”. Não sei quanto tempo se passou e de repente um funcionário grita “521”.



“Puta que pariu, quase 100 pessoas na minha frente”. “100 preferenciais, Jesus Amado Salve Salve?”.



Olhei uma grávida ao meu lado e a senha dela era 743. Pensei “puta merda, ela chegou antes de mim e ainda deram a coitada uma senha 743”. A questão ética de "devo ou não avisá-la" ficou para trás no momento que decidi dar um rolê já que as costas já doem quando fico muito tempo sentada e 100 pessoas daria no mínimo uma hora.



Dei um rolê de 40 minutos e voltei. Eram quase 10 horas.



“Senha 578”.





“Puta que pariudissss” pensei.



De repente, vi as grávidas e pais e mães de bebês de colo fazendo uma manifestação ali com a funcionária das senhas. Só faltou cartazes. Enfiei-me no meio e tirei meu cartaz do bolso.



Elas não estavam entendendo como funcionava a senha para preferenciais. A funcionária se deu conta de que ela também não, de que na verdade não havia senha para preferenciais. 



Então pediu para nós, preferenciais,  decidirmos entre nós quem chegou primeiro e fazer uma ordem. Situação chata, porque não sabíamos exatamente quem chegou primeiro. Mas como não havia outra forma, nós preferenciais fomos num cantinho, juntamos também os idosos que estavam lá quietinhos, quase dormindo, e começamos a bolar uma ordem.


Aí começaram as histórias, a mãe com arritmia cardíaca, o bebê prematuro, dois bebês, recém cesárea. Meus problemas (dor nas costas, "dificuldades intestinais", gases, azia e queimação no estômago) começaram a parecer fúteis. Fizemos a ordem e até que sem listar meus problemas não me saí mal. Eles acharam que minha barriga representava quase 9 meses (é de 7!!) então eu não questionei muito.



Papo entre os preferenciais vai e vem.



- Maternidade Bohler ou Grande-Duchesse Charlotte? Tanto faz.



- Cesárea ou parto normal? Cesárea sempre ganha... Tadinho do pobre “parto normal” que aqui se chama “parto”, porque cesárea acho que é somente 10% das mulheres que fazem. No Brasil chega a 80%, é isso mulherada?



- Azia ou dor nas costas? Dor nas costas.



- Hein? Dizia uma senhora de 80 anos.



Depois de saber de todos os babados gravídicos do país, fui chamada. 11h30. Peguei minha lista e fui começando a tirar minhas dúvidas. 





Resumo das minhas dúvidas: “isso tem que ser feito em Bruxelas”, “isso também”, “daí você tem que voltar a Bruxelas para pegar esse documento, depois de pronto”. “não, não, não fica pronto no mesmo dia, são 15 dias depois”. “sim, infelizmente a senhora precisa para isso ir 4 vezes a Bruxelas”. “é, eu sei que são 3 horas daqui”. “não, não podemos trazer no Consulado itinerante esses documentos, só o passaporte do bebê”. “isso, então são 3 vezes que a senhora tem que ir a Bruxelas, não 4”. “ufa”. “ah, mas tem um problema, acredito que esse vai ser o último consulado itinerante em Luxemburgo”. “sim, esse foi o primeiro do ano, mas acho que não vai ter outro”. “desculpe que não respondemos seu email”. “o que a senhora pode fazer hoje é pagar essa, e essa e essa e essa e essa taxa”.





12h fui embora e ao sair ouvi:



- Senha 701!


E o povo:



- Que????????????????? Mas o 600 nem começou ainda!!



- É que funciona assim: vai do 500 ao 599, depois do 700 ao 799 e depois do 600 ao 699.



Povo:



Parti almoço... Imaginando como governos gastam dinheiro público...


 Lili

terça-feira, 11 de março de 2014

Bons amigos, mais tranquilidade e menos apego material





Todos meus amigos, familiares e o Dani merecem uma homenagem aqui no blog. Mas nem sempre eu estou inspirada. Então, sorry para aqueles que ainda não receberam. Esse fim de semana especialmente eu me sinto inspirada. Não que inspiração signifique qualidade. Bem que eu gostaria.



O Dani e a Leni poderiam estar mais felizes :)


O que provavelmente aconteceu foi – inverno com temperatura de 18 graus, com o céu azul de doer, sem uma nuvenzinha para contar o babado do clima. Primeiro um inverno sem neve, depois um inverno com 18 graus e solão? Quem diria! Alguns estavam de camiseta na rua (né Billy?). O sol foi tão forte que eu bronzeei e meus amigos alemães ficaram vermelhos.


É incrível como o sol é importante e fonte de alegria


É dessa junção que quero falar. Se tem algo que eu e o vermelhinho que mora comigo amamos é receber e estar na companhia de bons amigos! Aqui é muito comum recebermos visitas para o fim de semana todo. Mas dessa vez o Stefan (alemão) e a Leni (romena) trouxeram de Munique algo muito importante – o sol!


Saindo para fazer uma trilha, nosso apê faz pose para o sol

?

Vista para o nosso bairro

Conversa séria... Nem para todos...


Conversa ficou séria demais. Vamos para o barco, então?

Quem quer brincar no parquinho?


Tão agradável quanto o sol, foi deliciosa a companhia deles nesse fim de semana. Eu sempre fico um pouco alerta quando recebo visitas alemãs, porque apesar de ter um em casa, os alemães ainda são um mistério para mim. A cultura deles, seus jeitos e modo de pensar ainda me desafiam. Vai ver faltou ler uns clássicos na adolescência.  



O fato de ter uma romena já me deixou um pouco aliviada, apesar de não conhecer nada da cultura desse país. Agora já posso dizer "Viva a Romênia!".



Tudo saiu inesperadamente tranquilo. A sensação de bem-estar do lado deles o dia todo e vê-los como aventuras a serem desbravadas foi de me arrancar sorrisos e euforia. Cada gesto, história, comportamento, sensibilidade deles me fez sentir extremamente feliz. Era como se morássemos juntos e aquilo ia durar muito mais que um fim de semana.



Celebração no bairro do fim do inverno. Dessa vez o inverno acabou mesmo. Ano passado a neve foi até abril.

As crianças (acompanhadas de adultos claro) levam as pequenas chamas para acender a enorme fogueira.

Queimando a testa

Testas queimadas


Tenho muito esse sentimento do lado da minha irmã. Só de ela estar ali do ladinho, já é bom, e não sinto pressão de dizer algo, fazer algo. Simplesmente uma vontade gigante de estar ali, conversar e fazer atividades gostosas.



Eu acredito que quem tem bons amigos, bons pais e companheiros, também tem menos apego a coisas materiais e regras sociais desnecessárias e estressantes. É impossível passar por tal experiência de amor sem ficar com a marca do “é isso que importa”.



Do jeito que estou boba de felicidade e curtindo ao máximo esse momento de alegria "amical", preciso dizer essa frase clichê: Viva o amor! Tendo claro que esses momentos são momentos e não uma constância. Infelizmente ainda não achei um jeito de levar no bolso para o trabalho os meus amores.


Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas. Ariano Suassuna (Espero...)



E vivam aqueles que tem tempo ou arrumam tempo para se dedicar a tal amor.



Que a junção de falta de inverno, excesso de alegrias e de menos momentos duros continuem reinando aqui pelo Grão-Ducado. Até o primeiro-ministro estava na trilha que desbravamos esse finde.



Para finalizar, batata-frita sem óleo. Somos amigos já passados dos 30, é hora de começar a cuidar do colesterol :)


Cíntia