quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Feira do Livro em Frankfurt



- Fim de semana passado eu e o Dani fomos para Frankfurt na maior feira do livro do mundo. - Cíntia 
- Brincou? Achei que era a Bienal de São Paulo! – Gabriel.
- Também pô! Depois que entendi porque não é. – Cíntia.
- Por quê? – Todos. 
- Porque não deu para terminar de conhecer tudo e tinham vários ônibus espalhados pela cidade só para levar o povo para a feira. 

Pegamos um ônibus gratuito para chegar à feira. Achamos o máximo o ônibus ser gratuito até chegarmos na feira e precisarmos pagar 17 euros para entrar. A gratuidade do ônibus era só para dar uma sensação boa para os bobos pão-duros.

Entramos pelo pavilhão/prédio 8 e eu já queria saber onde era o pavilhão do Brasil. Esse ano nosso querido Brasil foi o país homenageado na feira. Estavam espalhadas por todos os lados as cores verde e amarelo. E eu comecei a esticar o peito como se a homenagem fosse para mim. “Olha aqui, tem uma brasileira entrando na área”. Eu pensava (detalhe: tinham 1000).

Chegamos ao pavilhão, e lá estava nas paredes, fotos do Brasil, do Menino Maluquinho, do Brasil Império, Brasil República, Machado de Assis e brasucas por toda parte. No chão tinham almofadas para se jogar, ler um livro ou tirar um cochilinho. Se não encontrasse espaços nas almofadas tinham redes. Para os mais alertas tinham bicicletas em que quando você começa a andar um filme sobre o Brasil aparecia na telinha.





Em outro prédio, depois de andar meia hora e passar por um restaurante brasileiro cheirando a feijão chegamos a outro pavilhão de homenagem ao Brasil. Alerta ligado – feijão, farofa, frutas brasileiras. Meus “olhões” brilharam! Ok, livros são tão importantes quanto comida. Principalmente em um país onde o povo não entende a importância de comer feijão todo dia.

No pavilhão 112, que é assim que pareceu para mim, tinham várias editoras brasileiras e alguns escritores! Tivemos a oportunidade de sentar numa mesa com o escritor Ronaldo Correia de Brito e conversar sobre edição na Europa. Ele disse que na Inglaterra, somente 1% da edição é voltada para livros estrangeiros, enquanto na França é mais de 40%. Careta para os ingleses...

Alias, sentamo-nos à mesa graças ao Dani. Ele ficou olhando para eles e sorrindo para ver se eles o convidavam para sentar. E eu parada do lado como uma barata tonta. Como eles não convidaram, o Dani disse:

- Que interessante a conversa de vocês, posso ouvir?
- Gente!!! O que ele está fazendo??? – penso eu.
- Claro amigo, sentem-se com nós.  – os intelectuais.

Assistimos também uma palestra do Cristóvão Tezza (Catarina-curitibano muito simpático) e da Patrícia Melo com o Férrez (literatura marginal).

No mais, sentamos e comemos muitas frutas brasileiras. Principalmente maracujá e abacaxi! Parecíamos dois subnutridos.


Ganhamos alguns livros também! Assistimos um debate sobre a copa, e vimos muitas pessoas vestidas como personagens de desenhos animados. O que me pareceu o segundo maior evento da feira, sem ser o Brasil.


- E você trouxe algum livro para nós? – pergunta Renan.
- Ups!!!

Cíntia

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Salsa entre 150 nacionalidades


A Lí chega dando pulinhos de gazela para a turma no café da Je sábado e diz:

- Gente!!! Preciso contar das aulas de salsa. Sinto-me tão feliz! Não tem como ter crise dançando.
- É mesmo? Também quero...  – diz o Re meio deprê.
- Sim! Vamos comigo próxima vez (ela imagina como seria o Re dançando salsa). Mas eu queria contar dos tipos que tem no grupo! Cada um! Aí vai:

É no mínimo curioso fazer aula de salsa num país em que 43,2% da população é estrangeira e de 150 nacionalidades diferentes (fonte). 

É fato que você vai observar como franceses, alemães, portugueses, indianos, senegaleses, poloneses, chineses rebolam.

E dessa observação sai alguns resultados interessantes:

1 – Parece-me que quanto mais escura a pele, melhor é o rebolado. Há algumas exceções, como minha amiga alemã loira que morou na Bolívia e fala 5 línguas (6 daqui a pouco), ela tem algo de latino no sangue.

2 – Quanto mais alta a pessoa mais suas costas ficam inclinadas e seu bumbum batendo nos vizinhos, porque em geral os parceiros com que essas pessoas dançam são mais baixos. Há poucas alemãs e norueguesas na turma.

3 – Quanto mais branca, mais tímida a pessoa também é. Então ela não realmente “te pega de jeito” para dançar. Ela encosta nas suas costas como se tocasse pela primeira vez a kryptonita do Super Homem. E daí na hora que você gira, você vai longe, já que o parceiro não realmente estava te segurando.

Também há os tipos interessantes (ou não) de dançarinos iniciantes de salsa. Bom eu só danço com homens, então só posso dizer deles.

1 – O que sua muito. Então você aproveita qualquer deixa para largá-lo e limpar suas mãos na calça para ver se melhora o atrito entre as duas mãos. Já que toda vez que você roda seu coração acelera pensando se você vai ser jogada longe no deslizamento das mãos.

2 – O que tem bafo. A pessoa ficou o dia inteiro sem escovar os dentes (ou os dente como eu digo. E daí meu pai me pergunta: Qual dente?), come mais um hambúrguer a noite e vai para a aula de salsa. Nesse ponto já está rolando o carnaval de bactérias na boca do indivíduo. E você está lá na frente dele recebendo a música unicelular até o professor pedir para trocar de parceiro. Ufa... Daí dá para voltar a respirar. Chicletinho, por favor?

3 – O que fede. Sem comentários. Perfuminho antes da aula, por favor?

5 – O que acha que está abafando e não está. Esse tipo acha que está arrasando na dança. Ele não está e não há ninguém no mundo que o convença o contrário. Ele rebola muito, dá umas mordidinhas no lábio do tipo “sou sexy”, se olha bastante no espelho e dá uma jogadinha com a cabeça para trás. Você observa com olhares antropológicos porque é o que é possível fazer com um ser desses.

6 – O extremamente tímido. Você procura seu olhar, e nada. Ele está olhando para o professor, para os próprios pés e mal te toca porque é desrespeitoso fazê-lo. Dá um soninho...

7 – O que bate nos outros casais. Os movimentos da pessoa são tão duros e largos que ele sai batendo em todo mundo (e você também, afinal, ele está te conduzindo e você acaba apanhando junto). As pessoas olham torto, mas ele está tão seguro que o braço deve se esticar até distender que ele continua.

8 – O que dança jazz moderno achando que é salsa. Os pés não realmente vão para trás e para frente, vão para o lado como a bunda. Você pisa no pé dele para mostrar “olha como realmente se faz”, e ele continua sorrindo e diz “é tão bom dançar, não?”. E você pensa “Get a disco”.

9 – Por último, os que dançam bem para iniciantes. Esses daí, você olha para a roda e fica contando “ok, faltam dois bafos e um metido a Brad Pitt para chegar nele”. Keep dancing.

10 – O profe. Claro, daí sou eu que me sinto a metida e mexo os cabelos para lá e para cá (quando estão lavados, senão eles não saem do lugar) e parece que eu aprendi a dançar salsa em Cuba. Afinal, se o homem sabe dançar, a mulher no mínimo o acompanha. São danças machistas, onde é o homem quem manda, fazer o que.

Turma de iniciantes!

- Hum... Eu sei que você só dança com os homens, mas essa categoria deve servir para as mulheres também não? – diz Renan.
- Talvez, por quê? – Lílian fica curiosa.
- Nada... Alguém quer um chicletinho? – cheira Renan.

Lílian

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Minha primeira palestra em francês


Paris vista da Torre de Montparnasse
Nem para todo mundo é importante aprender línguas, mas para a maioria que já cruzou fronteiras é.

A primeira vez que você faz uma viagem internacional é inesquecível. A primeira vez que você pisa em um continente novo então! Oh lá lá! A Argentina foi o primeiro país que visitei. Eu e minha família passeávamos todos os anos por um novo estado brasileiro. Já um novo estado para mim era muito emocionante! Foi demais desbravar o Brasil! Na Argentina, eu fiquei totalmente boba só de ver um povo inteiro falando uma língua que não o português. Mas a primeira vez que pisei na Europa e depois na África e Ásia, foram outras sensações deliciosamente perturbantes!

Depois de muito passear pela Europa, uma hora você começa a ficar metida. “O castelo, a Catedral, a ponte, cansei”. E não é a mesma coisa conhecer a Alemanha, se você antes já visitou França, Áustria, Holanda e assim vai...

Só que esse sentimento incontrolável de amor pelo desconhecido volta quando você aprende uma língua nova.

Porque você não aprende só a língua. Para aprender a língua, você aprende também a cultura, a literatura, costumes, a política de um país. Isso te faz sentir um pouco mais como é ser uma pessoa que tem como língua nativa aquela que você está aprendendo...

Hoje eu fiz minha primeira palestra em francês. Fiz para minha turma mesmo de francês, e falei sobre Psicologia. Na minha turma tem gente pra lá de Bagdá – Moldávia, Bulgária, Hungria, Rússia, Portugal, Brasil, Inglaterra, Lituânia, China, Chile e por aí vai. Eu falava então em francês, como se aquilo fosse possível, como se não fosse ridículo, como se não fosse chinês.
Prato típico francês com queijo Camembert (tirada em Verdun)

E voilá! As pessoas me entenderam! Tanto que de uma palestra de 20 minutos foi para 2 horas. Conversamos sobre problemas amorosos, infidelidade, vícios etc. Cada um falando francês, mas apegados às regras de suas culturas.

Quando você fala outra língua e se percebe falando parece que você não é a mesma pessoa. Algo te possui e incontrolavelmente não te deixa mais. O tom de voz é outro, a forma de pensar é reformulada, as curiosidades são instigadas e o público muda.

Aprender uma língua te muda. Mudam seus comportamentos, seus pensamentos. Você é forçada a questionar sua cultura. Uma língua é cultura e por isso são outros comportamentos diferentes dos seus.

Ao parar de suar, de tanto falar francês olhei para minha experiência e pensei:

La vie est belle!

Você sentiu tudo isso ou mais ao aprender uma nova língua?

Cíntia
 
Gérardmer, vista de uma casinha deliciosa

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

“Na correria”, está escutando ou falando muito isso ultimamente?

Festa medieval no castelo de Vianden, Luxemburgo

Você já se pegou dizendo para alguém “estou na correria”, depois de alguém te perguntar “como você está?” ou “Ta sumido! Por onde anda?”.

Às vezes você nem realmente está na correria. Seu amigo pode até perceber aquele seu bronzeado de no mínimo uma semana todos os dias pegando sol por 30 minutos – para não dar aquela queimadinha e sim ficar moreninha (o).

Mas você diz “estou na correria”.
Parece até uma obrigação social. Porque afinal, dizer “estou aí, trabalhando 40 horas por semana e a noite coçando o saco, dançando, fuçando no Face, vendo Dexter, aprendendo chinês, etc. Parece totalmente absurdo dizer que você tem lazer (ps: para mim aprender línguas é lazer).

Mas não aqui no Grão-Ducado (ou Grão-de-bico como meu corretor insiste). Principalmente o fim de semana é merecido! Em geral, as pessoas sentem que fim de semana devem se desligar, passar tempo com a família, amigos, namorado (a), fazer atividades novas, aventuras, ir às festinhas proporcionadas pelo Estado. Festa das nozes, do vinho, da Idade Média, do Santo X, do passarinho, etc. Não importa o quanto de tarefas e trabalho você tem. Isso é para segunda! 

Bertrand Russell, filósofo inglês, não era um fã do trabalho. Em seu ensaio de 1932, " In Praise of Idleness" (Elogio ao Ócio), ele contou que se a sociedade fosse melhor gerida, a pessoa média só precisaria trabalhar quatro horas por dia. Tal pequeno dia de trabalho seria "direito de um homem para as necessidades e confortos elementares da vida." O resto do dia poderia ser dedicado à busca da ciência, pintura e escrita (fonte).  

Eu me lembro, em alguns grupos sociais que eu frequentava, o quanto era difícil reunir as pessoas. O fim de semana era utilizado para trabalhar (bom, pelo menos era isso que eles diziam). A noite era usada para trabalhar! Não para dormir? Dormir era para os fracos, diziam-me. 

O trabalho de alguns, não importa que fosse de trapezista de circo, parecia sempre estressante. Parecia não haver nada de interessante que se pudesse contar do trabalho.

Aposentar então era um problema... “Nossa, se esse aí se aposentar vai ficar doido”. Por quê? Porque não vai mais trabalhar. Olha, eu conheço aposentado que está dando cambalhotas por não ter mais que trabalhar e está aí descobrindo o mundo de mochilão, aprendendo línguas, interagindo com jovens, aprendendo a tocar instrumentos musicais, fazendo trabalho voluntário, fazendo aulas de danças e ganhando concursos estaduais com isso.

Até parece que com essa correria toda, as pessoas estão mais produtivas. Isto é, aquilo que elas fazem durante 80 horas semanais tem mais qualidade e eficiência que se fizessem em 40 ou 20 (para o amigo filósofo e otimista) e usassem o resto do tempo para evoluir, aprender, ou simplesmente sendo bobo e feliz? Parece que trabalhadores mais produtivos e, consequentemente, melhores remunerados ficam menos tempo no escritório. O gráfico abaixo mostra a relação entre a produtividade (Grau de produtividade por hora trabalhada) e as horas de trabalho anuais:


Mesma fonte de antes


Os gregos são um dos povos mais trabalhadores na OCDE (ps: e olha o que seu governo fez com o povo), colocando em mais de 2.000 horas por ano, em média. Alemães, por outro lado, estão mais “folgados” em comparação, trabalhando cerca de 1.400 horas por ano. Mas a produtividade alemã é cerca de 70% maior.

E assim vai a pesquisa... Vale a pena ler...




O ponto é: quando virou tabu coçar o saco? Você sente isso? Que deve ficar ou mostrando que está trabalhando, ou realmente trabalhando até o esgotamento? Você sente que precisa trabalhar até esgotar-se para conseguir sobreviver (comprar comida, pagar aluguel, etc.) ou você não está sabendo gerenciar o seu tempo e dinheiro? 

Isso é outra coisa. Suas atividades de lazer sempre custam caro? Por quê? O que você escolhe para se divertir?

Tem gente que ainda faz isso por regra. Diz que trabalha muito ou até trabalha muito porque de alguma forma se sente útil e “vivo” somente dessa forma... E quando diz, ainda ganha “piedade” e carinho dos outros:
Schueberfouer - festa anual desde 1340



- Tadinho... - e dá um tapinha nas costas.

Mas me parece que alguma coisa tem aí por trás... Por que uma pessoa que trabalha tanto não sente que merece descanso? Por que não consegue passar tempo com os filhos e amigos? Sabe essa pessoa interagir bem com os outros ao ponto de se sentir totalmente feliz de estar junto da família e amigos? 

Meu amigo Gabriel diria:
- Oi, e aí, beleza? – Gabriel.
- Na correria. – Pessoa Y. 
- Por que você joga então Angry Birds e fica me convidando para jogar também?




Se pergunte por quê... E se você realmente não tem opção, tem que trabalhar 80 horas para se sustentar, tente ver o que de bom seu trabalho pode te proporcionar (ou como você pode ganhar mais dinheiro trabalhando menos)...

Lílian